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O caminho para fazer história: Blumenau inicia a disputa pelo título da LBF 14/08/2021 21:09

O KTO/Blumenau já fez história ao chegar na grande decisão da Liga de Basquete Feminino 2021 (LBF), mas a equipe pode – e quer – fazer ainda mais e começa a luta por este objetivo domingo (15), às 14h. Para isso terá um duelo duríssimo contra o Ituano (líder da fase de classificação) em uma disputa melhor de cinco jogos que inicia com as duas primeiras partidas em Itú, tudo com transmissão da TV Cultura e da rádio CBN Diário.

“Essa final será tão dura quanto as quartas e as semifinais, o Ituano tem várias atletas experientes, competentes e o nosso time também. Vamos treinar e ajustar algumas coisas nesse curto período antes dos jogos e, durante a série, precisamos ter inteligência, paciência e fazer o trabalho da forma que estávamos fazendo, só que ainda melhor.”
Vitória Marcelino, ala e cestinha da equipe

Porém, para chegar na grande decisão e alcançar o feito inédito para o basquete de Santa Catarina, Blumenau teve uma trajetória difícil e cheia de percalços: casos de Covid-19, 37 dias sem jogar, depois fizeram seis partidas em 13 dias antes dos playoffs e enfrentando a 2ª e 3ª melhor equipe nas quartas e semifinais, respectivamente. Tudo isso vencidos com muito trabalho e união para se colocar entre as duas melhores equipes do país.

“Com certeza não foi uma das temporadas mais fáceis que se poderia ter, mas eu vejo muita coisa positiva de tudo isso. Os dias sem jogos, depois o período com muitos jogos, tudo isso a gente conseguiu transformar isso em motivação e, com certeza, uniu muito mais o grupo.”
Mariana Camargo, ala-armadora e capitã

A participação do Blumenau na LBF 2021 tem o apoio da Federação Catarinense de Basketball, em parceria com a Trimania, uma temporada especial a qual contaremos agora.


Foto: Vitor Bett / Blumenau

A formação do elenco
A montagem da equipe iniciou já para a temporada 2020 da LBF, cancelada pela pandemia, e do título Estadual. Nesse período chegaram Vitória e Tati Castro, se juntando a atletas que já estão há anos no time, casos de Mariana Camargo, Giulia Kuck, Kawanni Firmino e outras jovens atletas. Para este ano, chegaram reforços como Luana de Souza, Leiva e Bárbara, além dos retornos de atletas que já tiveram destaque em anos anteriores pela equipe como Leila Zabini e Cacá. A armadora, aliás, está em sua quarta passagem pelo time e se tornou a líder em minutos (com mais de 35min por jogo) em uma temporada com um significado todo especial para a atleta.

“Eu acredito que essa volta para Blumenau foi muito gratificante, cheguei com as forças renovadas, outro foco, principalmente depois do nascimento do meu filho. Tudo o que eu tenho feito é por ele e eu tenho conseguido transformar tudo isso em energia e foco para entregar o melhor que posso para o time. Nossa equipe manteve uma base e isso faz diferença para conseguir uma consistência, além de termos um novo sistema que favorece bastante o jogo.”
Cacá Marins, armadora

Todo esse misto de talentos e histórias diferentes formaram um elenco de grande potencial para a montagem do técnico João Camargo Neto, junto com a assistente Bruna Rodrigues, a preparadora física Gabriela Maas e toda a comissão técnica. O processo envolveu uma nova filosofia de jogo com muitas influências do trabalho que Camargo desenvolve na Seleção Brasileira como um dos assistentes técnicos de José Neto. Porém, o primeiro e importante passo foi a química entre as atletas.

“Eu acredito que essa união se desenvolveu desde o começo do campeonato, através da clareza no objetivo de cada uma em representar a equipe de Blumenau e do comando do Camargo que nos permite transparência, respeito e harmonia, sabemos a importância que é conviver em um ambiente saudável, independente da personalidade de cada atleta, então isso foi só se fortalecendo e hoje vemos o quão somatório é para nosso time.”
Luana de Souza, ala


Foto: Fábio Leoni / Vera Cruz Basquete

O estilo de jogo
Com o elenco montado, a implantação de um conceito de jogo era o grande desafio da comissão técnica liderada por João Camargo Neto. A vitória logo na estreia da LBF 2021 contra o Vera Cruz Campinas, finalista das três edições anteriores da competição, mostrou o passo seguinte de um trabalho apresentado no título Estadual de 2020, mesmo com as adversidades de um ano de pandemia.

“Meu primeiro campeonato pelo estado foi uma experiência muito boa, o Camargo já estava começando a implementar a forma que ele queria que o time jogasse e nessa LBF continuamos o trabalho, mas com um elenco um pouco diferente. O sistema do nosso time possibilita que todas nós tomemos decisões dentro do jogo, isso foi muito importante para que eu me sentisse confiante dentro da equipe e evoluísse”.
Vitória Marcelino

O estilo de jogo descentralizado conta muito com o talento e tomada de decisão das próprias atletas, fazendo com que várias delas atingissem seus melhores números nesta temporada – caso de Vitória. Porém, mais que isso, fez cada peça do elenco ser importante como demonstra a rotação em que nove atletas atuam, pelo menos, 15 minutos por partida. Esta rotação, junto com o ótimo trabalho de condicionamento físico, mostram porque o time é tão intenso nos dois lados da quadra, com defesa forte e velocidade na armação, do início ao fim da partida.

“O nosso sistema de jogo favorece muito o contra-ataque, estamos nos aprimorando cada vez mais e precisávamos de uma defesa forte para melhorar cada vez mais, compramos essa ideia junto com o Camargo e assim chegamos à final da LBF, mas o nosso ponto principal é que não desistimos, confiamos no processo, uma na outra e isso tem feito a diferença.”
Cacá Martins

Das nove estatísticas individuais da competição, Blumenau figura apenas duas vezes no top 5 (Cacá é a 3ª em assistências e a 5ª em roubadas de bola), mais um grande exemplo de que a coletividade é a maior força dessa equipe.


Foto: Vitor Bett / Blumenau

A trajetória difícil
O caminho do KTO/Blumenau para o título foi especialmente difícil. Após um início instável, com duas vitórias e duas derrotas em um desempenho inconstante, a equipe viveu seu grande momento de dificuldade com dois WOs devido a casos de Covid-19 no elenco. Além da perda dos pontos, o período de 37 dias sem jogar dificultou o ritmo de jogo e o entrosamento do time.

Após outra pausa de 30 dias – dessa vez em toda a competição devido à AmeriCup, com Camargo servindo à Seleção –, Blumenau fez uma maratona de seis jogos em 13 dias. Nesse período teve boas atuações, mostrando o potencial da equipe, mas nem sempre com triunfos. No total, Blumenau não venceu mais do que dois jogos consecutivos na primeira fase, teve o quinto melhor aproveitamento, mas ficou com o 7º lugar, colocando um forte desafio à frente nos playoffs.

“Acho que o 7º lugar não retratou fielmente o que foi nossa campanha, mas o time realmente foi crescendo ao longo da temporada e a gente vem mostrando uma evolução muito grande. Desde quando a equipe foi formada, eu vi muita qualidade em todas nós e potencial de chegarmos em uma final como é hoje. Falo sem nenhuma arrogância, mas por acreditar mesmo na qualidade que cada atleta tem. Então, de certa forma, nos chamarem de surpresa foi uma motivação, pois sabíamos aonde poderíamos chegar.”
Mariana Camargo

Ápice na hora certa
Se na fase de classificação o máximo foram duas vitórias consecutivas, a sequência positiva veio mesmo nos playoffs. Nas quartas de final, as catarinenses tiveram um desafio duríssimo contra o Sesi Araraquara , 2º colocado da primeira fase, porém venceu em casa e fora levando a série em 2 a 0. Um triunfo marcado pela defesa forte com muitos roubos de bola, volume de jogo, rebotes ofensivos e muitos pontos no garrafão.

Contra o Sampaio Basquete, 3º colocado e atual campeão da competição, Blumenau fez jogos duríssimos, mantendo a forte defesa com saída rápida no contra-ataque e sendo decisivo em momentos cruciais dos jogos com duas vitórias definidas no detalhe: 65 a 63 no Jogo 1, em casa, e vitória na prorrogação no segundo jogo.

O bom condicionamento físico do início ao fim das partidas, as várias opções que a equipe possui e a coletividade se destacaram ao longo da competição e cresceram ainda mais nos playoffs. Mais do que isso, alcançou um nível que fez Blumenau subir de 5º melhor ataque em pontos da fase de classificação (70,6 pontos) para 2º dos playoffs (78,2). E um dos destaques para essa melhora é a defesa, ponto essencial de um ataque que joga em transição, passando do 6º pra o 4º melhor em números de pontos e de 3º para 1º em roubos de bola e erros das adversárias.

“Para mim é bem fácil falar em defesa, pois gosto muito e fico feliz por ver o quanto nossa equipe entendeu que a defesa nos levaria cada vez mais próximo do nosso objetivo. Estarmos ligadas em todos os comandos defensivos, estudar cada adversário que enfrentaríamos com muita concentração e determinação, por isso hoje conseguimos ter uma das defesas mais fortes deste campeonato e isso, com certeza, foi de extrema importância para nos colocarmos onde chegamos e nos fará ir além em busca do que toda equipe almeja.”
Luana de Souza


Foto: Ellen Costa / SESI Araraquara

Chance de fazer história
Depois desta trajetória, agora vem o grande desafio contra o Ituano, líder da fase de classificação e também invicta nos playoffs. Nos dois confrontos da primeira fase, uma vitória para cada lado, o que demonstra o equilíbrio do confronto, até porque, a essa altura da competição, Blumenau já não é mais surpresa.

Quem acompanha de perto sabe que nunca foi e o caminho valoriza ainda mais o feito para município e para o basquete do estado, demonstrando que todos podemos sonhar com mais. Santa Catarina está na torcida pelo título desse time que esse time já é histórico, como falou uma grande conhecedora.

“Eu acho que tenho uma certa dimensão disso tudo, é um feito gigantesco, uma coisa que estou orgulhosa e honrada por poder fazer parte dessa história. Sei que vem de anos, pois o basquete de Santa Catarina sempre esteve entre os melhores do Brasil, mas conseguir fazer isso agora, estar numa final nacional e poder disputar o título é, com certeza, uma das minhas maiores conquistas profissionais e para o basquete blumenauense e catarinense é um feito incrível!”
Mariana Camargo, atleta FCB desde 1998


Foto: Vitor Bett / Blumenau

Texto: Lucas Inácio / FCB

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